quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É o preço que a gente paga, não é?


Para ficar na história, ficar numa história, contar uma história e ter do que se orgulhar. Orgulhar-se do que se conta, do que importa, da nossa história, mesmo que ela, enquanto acontecesse, não fosse tão doce, tão simples, tão bela. O tempo suaviza, esses produtos químicos amaciam a carne, a mente corroída se lembra de tudo mais belo, aventuras passadas, contadas com orgulho quando deixadas para trás. Ah, mas para passar por elas...

É preciso perder alguns neurônios para que os neurônios sobreviventes se esforcem mais. Esquecer os nomes dos pais, para recitar os poetas franceses. Contanto que eu não perca minha censura, tudo o que eu me lembrar pode ser usado a meu favor.

Concordo que poderia ter sido diferente, eu poderia ter seguido outros caminhos e não ter me lesado tanto. Mas vai saber o que uma simples friagem não pode fazer em mentes demasiadamente protegidas, ou o efeito tóxico da noz-moscada na comidinha caseira, ou o lapso permanente — a paralisia cerebral — provocada ao se dizer Pecan Pie num quarto de hotel. Se a destruição é inevitável, ao menos que seja saborosa.

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